Entrevista com o ator Paulinho Serra


Paulinho_Serra
Ele se configura como um dos principais ícones contemporâneos do teatro brasileiro. Nascido nas rodas de humor de subúrbio carioca, Paulinho Serra esteve em Mossoró recentemente para duas apresentações do espetáculo Quinta Categoria, inspirado em programa homônimo da MTV. Após o fim do espetáculo, recebeu a equipe do jornal O Mossoroense para um papo descontraído onde falou sobre suas passagens pelo rádio, TV, teatro e cinema, além das participações em programas como Pânico na TV, Malhação e na nova fase de programação da MTV. Paulinho, que foi revelado como um dos maiores improvisadores do país aborda sua trajetória de vida profissional, avalia a nova fase do humor brasileiro e as percepções sociais obtidas a partir das suas viagens como comediante, por todo o país, além de apresentar suas impressões sobre o Rio Grande do Norte e Mossoró.

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O MOSSOROENSE - Qual a origem do ator, autor e diretor multifuncional Paulinho Serra?

PAULINHO SERRA - Cara. Eu nasci em Bangu. Sou do subúrbio carioca. Sempre tentei me incluir em qualquer roda de pessoas fazendo humor. Eu achava que era uma forma de inclusão muito legal. Eu me voltava pro humorismo, mas as pessoas, todo mundo meio que me obrigava a fazer teatro. Acabei fazendo teatro, morando na Zona Oeste, indo pra Barra da Tijuca todo domingo de manhã, na maior dificuldade, e virei ator aos 18 anos.

OM - Seu primeiro trabalho profissional de teatro foi educativo, há sete anos. De lá pra cá mudou muito? O que mudou na técnica aplicada no decorrer deste período?

PS - Cara, o que aconteceu foi uma coisa que eu não sabia, é que eu tinha o poder de ser autor. Foi quando comecei a interpretar as coisas que eu escrevia. Toda peça que eu fazia colocava um monte de caco (inserções), os diretores ficavam putos comigo. Falavam que eu mudava tudo. Foi quando me descobri como autor de teatro. Foi quando criei o grupo Desnecessários. O Traficante Gay foi um personagem que explodiu, e mudou minha vida. Virou de cabeça pra baixo.

OM - Você já trabalhou com rádio, teatro, televisão e cinema. Dos quatro, há uma preferência por algum, ou os quatro são trabalhados de forma igualitária?

PS - Não. Acho que os quatro têm a base principal que é interpretar. O rádio é mais lúdico. Por que você tem uma interação maior com o público. Esta é a diferença. Agora interpretar, seja no teatro, na televisão ou no cinema, você pode interpretar num elevador pra duas pessoas, ou você pode interpretar num palco ou numa tela. A arte de interpretar independe de local que você está. Mas é claro que no palco, na condição de ator, você é responsável total pelo que está falando. Se você errar é contigo, se acertar também. No cinema, o diretor tem um papel maior do que do ator. Por que ele direciona o ator pra fazer o que ele quer e tem que ser daquela maneira. Na televisão tem a edição né? Eu posso cantar Ave Maria e colocarem outra música. Podem engrossar a minha voz, ou colocar um passarinho surgindo daqui. Tem outras coisas que não pertencem muito. Eu acho que a arte do ator é o teatro.

OM - Em 2010 você iniciou um trabalho com a MTV, numa fase nova da emissora que tem priorizado o humor. Se trata de um divisor de águas ou apenas mais um trabalho da carreira?

PS - Ah não! É um divisor de águas sim. Me trouxe muita liberdade na televisão, algo que eu não tinha. Trabalhei no Pânico algum tempo, onde criei um personagem que era flamenguista. Isso em 2009. Eu queria muito fazer este personagem, mas eu não podia fazer. Queria muito fazer, mas eu não podia, porque no Pânico minha autonomia era menor. Na MTV eu tenho autonomia pra fazer o que quiser. Isso é fundamental para o artista.

OM - Se a MTV é considerada 'divisor de água', o programa Quinta Categoria então deve ser tratado como um pilar da sua carreira. Como surgiu a ideia do programa?

PS - Tem um grupo americano chamado Ruslayneit´sAnyway, que faz estes jogos de improviso já há bastante tempo. Aqui no Brasil ele não era muito divulgado. O Quinta Categoria começou na verdade como uma grande balbúrdia. Era com o Cazé e o Marcos Mion numa formação com o Grupo Barbichas, e o programa já era de improviso da maneira como a gente entrou. Como os 'Barbichas' saíram, e o Mion também saiu, foi pra Rede Record, o grupo da gente foi chamado e entrou meio que no susto para cobrir um programa que era o maior sucesso na programação da MTV. Mas graças a Deus conseguimos encaixar bem. A Tatá (Werneck) já era improvisadora profissional. Eu já jogava de improviso, mas nunca tinha estudado, mas deu tudo muito certo, graças a Deus.

OM - A máxima do Quinta Categoria é o improviso. Qual o segredo pra garantir tanta qualidade e efetividade no improviso por tanto tempo?

PS - Em primeiro lugar, os grupos treinam pra caramba. Como no futebol o cara treina a semana toda pra jogar. Ele não sabe que horas vai ter a falta, que horas vai ter o pênalti. Só que ele treina possíveis coisas que podem acontecer no futebol, e nós treinamos coisas que podem acontecer no palco. Então, o tempo de treino que temos 'jogando' juntos, e a sintonia desta amizade cênica fez com que o grupo desse tão certo.

OM - Você tem viajado o país inteiro com o espetáculo. O que tem dado pra captar das diferenças do Brasil nesta trajetória de viagens?

PS - Cara, na verdade dá pra captar que o Brasil está ficando muito parecido. Sabia? Acho que a internet deu a possibilidade do jovem que mora no Crato (CE), em Juazeiro do Norte (CE), falar a mesma coisa da figura que mora em São Paulo e trocar informações. Nosso público é muito jovem, e a gente percebe que pelo menos com a gente os jovens têm as mesmas particularidades. É claro que tem um sotaque ou outra coisa. A gente percebe que o ânimo de uma cidade que tem mais sol, que tem praia, é um animo mais expansivo, como o carioca. Ele é mais expansivo, menos receoso em mostrar quem ele é. Ele gosta. Ele não faz muita média. O público das regiões mais frias se mostra como um público de comportamento diferente. Não sei explicar, mas percebo isso.

OM - O país passa por uma transição no humor. O humor que foi trabalhado por figuras como Chico Anysio e Mazzaroppi passa por um momento estimulado pelo improviso, pela coisa de momento. Qual a avaliação que você faz da transição do humor neste momento?

PS - Cara, eu acho que o grande responsável por este "boom" todo do humor é a internet. Eu costumo dizer que o Chico Anysio era o Youtube de antigamente. O humorista que fazia sucesso na Escolinha do Professor Raimundo seguia carreira solo. Que nem o Tom Cavalcante, um monte de gente que o Chico Anysio fez. A Dona Cacilda. Quem é que não lembra, a Cláudia Gimenez lá fazendo? O público só tinha a televisão pra buscar, hoje a internet dá a opção. Já existia bastante gente engraçada, bastante gente talentosa. Só que a Internet possibilitou as pessoas conhecerem melhor as outras.


OM - Existe um ícone no humor brasileiro? Aquele nome que está acima dos demais?

PS - Ahh, pra mim é o Chico Anysio, sempre. Sempre. O Chico Anysio não é nem um símbolo de ator. É um exemplo de ser humano. Ele foi um dos maiores prestadores de serviço do Brasil. Por que com o humor ele conseguia fazer altas críticas. Eu gosto do humor que ajuda a abrir o olho. Acho legal também o humor efêmero, que não leva a lugar nenhum. É engraçado ver uma pessoa correndo com medo de um cachorro, e tal. Mas a televisão é uma concessão pública e deve-se honrar esta concessão fazendo com que mesmo dentro de um programa de humor você consiga criar um cidadão melhor, e não estes programas que só bitolam. Que só deixam bitolado.

OM - Esta nova fase do humor tem registrado alguns excessos, numa espécie de humor negro que tem gerado muita polêmica como é o caso do Rafinha Bastos. Você acha que é positivo alimentar este tipo de humor?

PS - Eu acho que não foi nem humor negro o que ele fez. Acho que cada assunto deve ser falado no lugar correto. A televisão é uma concessão pública. Ela está ligada na sua casa. Você tá passando, e a televisão está ligada. Então você tem que ter um pouco mais de cuidado do que no teatro. No teatro o cara pagou ingresso pra te ver. Ele sabe o que ele quer. Então eu posso escancarar por que eu estou no palco. As pessoas estão vindo pra me ver. Por que se a pessoa não gostou ela pode me responder na hora. Eu acho uma sacanagem você falar uma coisa e não dá o direito de resposta. Eu não posso, por exemplo, chegar na casa da minha sogra e contar uma piada cabeluda. E até posso, mas pode pegar mal numa mesa de jantar. Eu não posso chegar para um padre e fazer uma brincadeira com um humor que não seria pra padre. Então é possível ter bom senso. O limite de cada um. E cada um tem seu limite, é particular. Mesmo assim eu não acho que um comediante precisa ser condenado. Pode só gostar, ou não gostar, não precisa condenar.

OM - Você já teve algumas passagens pela cidade de Mossoró. Qual a impressão que leva daqui?

PS - Estou impressionado, cara. Estou impressionado porque a gente já fez em Natal, no Teatro Riachuelo, aquele gigante maravilhoso. Aí eu fiz o meu solo aqui em Mossoró, vi gente sentado no chão, o teatro lotou. Aí volto com o Quinta Categoria, no meio de uma festa que tem um monte de opções de graça, e nego vem aqui e paga o ingresso. Isso é maravilhoso. É incrível, estou muito feliz.

OM - Já tem data para retornar ao Rio Grande do Norte?

PS - Ainda não, mas espero que muito em breve. Se possível ainda este ano.

Por MÁRCIO COSTA - Editor geral do jornal O Mossoroense.

Confira os cliques dos bastidores da entrevista: 

Paulinho Serra 

Márcio Costa e Paulinho Serra  

O elenco do Quinta Categoria recebendo a equipe do Jornal O Mossoroense para a entrevista 

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